2ª edição da Pós‐Graduação em Música na Infância: Intervenção e Investigação

No ano letivo 2020-21 funcionou a primeira edição da Pós-Graduação Música na Infância (PG). Os 15 alunos inscritos na PG apresentavam diferentes backgrounds académicos (ex., licenciatura e mestrado completos; inscritos em simultâneo no 1º, 2º ciclo ou 3º ciclo de estudos na NOVA FCSH e outras universidades) e proveniências (Lisboa, Porto, Elvas, Loulé, Tomar, Caldas da Rainha, Coruche, Seixal, Barreiro). Alguns alunos já trabalhavam na área da infância há vários anos, outros estavam a iniciar esse percurso profissional. Estes diferentes perfis foram muito enriquecedores no percurso de aprendizagem ao longo dos dois semestres, nas partilhas em trabalho de sala e trabalhos em pequenos grupos. Os professores procuraram responder às especificidades de cada um, tendo-se deparado com alunos motivados, empenhados e com grande capacidade de aprendizagem, quer na parte prática (aquisição de ferramentas e soft skills para trabalhar com os mais pequenos) quer na parte de investigação (ex., replicação de um estudo elaborado por um antigo doutorando, aquisição de competências em microanálise de vídeos, tratamento de dados estatísticos, apresentação de resultados, reflexão).

A Pós-Graduação parte para uma nova edição. Por isso, considerámos que seria interessante colocar à Professora Ana Isabel algumas questões e, assim, que darmos a conhecer melhor a origem e objectivos desta formação.

 

Apresentação da PG

Reunindo as dimensões teóricas, práticas (pedagógica e artística), musicais e relacionais, o curso de pós‐graduação em Música na Infância: Intervenção e Investigação dirige-se a profissionais que pretendam adquirir uma formação específica para trabalhar em contextos educativos e/ ou artísticos com crianças dos zero aos cinco anos de idade. Dirige-se igualmente a profissionais que pretendam melhorar a sua interação humana junto de crianças dessa faixa etária utilizando recursos de natureza musical.

Ao colocar lado a lado estudantes com diferentes perfis profissionais e ao incluir dimensões do âmbito do desenvolvimento pessoal, este curso cria bases de diálogo necessárias para as chamadas “intervenções em rede” no âmbito do sistema educativo e social. Acresce ainda que ao colocar a Intervenção e a Investigação a par, este curso de Pós-Graduação dá continuidade ao paradigma de trabalho que nos distingue face a outras instituições. (Normalmente, ou existe investigação em babylabs centrados exclusivamente em investigação, ou existem cursos voltados apenas para a pedagogia da iniciação musical.) Esta singularidade, para além de nos colocar na vanguarda da formação e das práticas educativas para a infância em termos internacionais, pode ser motivadora para estudantes e profissionais que busquem alternativas à forma como tradicionalmente se equaciona a formação académica.

Como surgiu a ideia? 
Este curso surge na sequência do Projeto GermInArte financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian — resultante de uma parceria entre o CESEM, NOVA FCSH e a Companhia de Música Teatral­ —, em que foram concebidas e testadas metodologias de carácter musical e artístico, visando a qualificação de recursos humanos e profissionais para a primeira infância. Seguindo as recomendações elaboradas no âmbito deste projeto, a conceção desta PG reflete a opção por “experiências de carácter imersivo” numa visão centrada na formação de “clusters” quer ao nível dos conteúdos científicos (integrando intervenção e investigação) quer no público-alvo a que se dirige. Assim, em vez da formação se centrar na preparação de indivíduos, procura-se que no mesmo espaço formativo coabitem pessoas com diferentes perfis profissionais, procurando-se a inscrição de atitudes cooperativas facilitadoras das desejáveis atuações “em rede”.
Que necessidades vai suprir?
Desde 1994 que a área da música para a infância se tem vindo a expandir em Portugal (e na Europa), em grande parte por via do enorme legado que Edwin Gordon nos deixou. No entanto, muitos dos profissionais que atuam nesta área não têm qualquer tipo de formação específica. Outros, tiveram acesso a ações de formação de curta duração. No âmbito do Projeto GermInArte foram oferecidos cursos de formação de curta duração e cursos de média duração. Nestas iniciativas, que alcançaram quase mil participantes, observou-se a presença de formandos de todo o País (ilhas incluídas) e de alguns estrangeiros. Tivemos feedbacks muito positivos. E tivemos também vários formandos que nos fizeram ver a necessidade de uma oferta de formação a nível académico. É, pois, declaradamente uma área em que existem necessidades de formação. É uma área em que não existe ainda um curso de nível universitário. A este propósito convirá recordar que já em 2012/13, a A3Es reconheceu que a existência no CESEM de um centro dedicado ao estudo do Desenvolvimento Musical na Infância e na Primeira Infância era algo de único em Portugal, tendo inclusivamente recomendado a criação de um curso neste domínio.
Qual a importância desta PG?
A infância é um período privilegiado para a aprendizagem e para a formação do carácter ou, se quisermos usar uma terminologia mais atual, para o desenvolvimento das inteligências emocional e social. A Universidade, como instituição que vela pela construção de uma sociedade sustentável, tem de estar atenta a esta realidade.
Esta PG contribuirá não só para a disseminação e aprofundamento de conhecimentos que a FCSH tem vindo a promover desde os anos noventa – para além de saberes ligados à teoria da aprendizagem musical temos tido também a forte influência do Professor Colwyn Trevarthen, um dos maiores especialistas mundiais em protocomunicação  – e inicia também um novo modelo de trabalho a nível académico. O corpo docente tem uma rica experiência no âmbito do desenvolvimento musical e da interação social na infância, o que facilita a partilha de conhecimentos. Deste modo, intervenção e investigação passam a estar relacionadas de forma mais estreita: como é que o saber adquirido pela via da investigação nos ajuda a trabalhar melhor com a infância? Por outro lado, as questões de desenvolvimento pessoal e relacionamento humano dos estudantes serão aspetos fulcrais nesta PG, a par da competência musical. É, pois, uma PG com uma filosofia muito específica, com características que a tornam socialmente relevante e necessária em termos nacionais e internacionais.
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