Instrumentos musicais e colecionismo entre finais do século XIX e princípios do século XX: o caso português
Resumo
Em meados do século XIX, verifica-se na Europa um interesse crescente pelo colecionismo de instrumentos musicais e a partir de muitas coleções inicialmente privadas foram fundados alguns dos mais relevantes museus desta especialidade. Tais coleções, compostas por instrumentos modernos, antigos e “exóticos,” refletiam e simultaneamente nutriam o pensamento musicológico e organológico contemporâneo, numa conjuntura marcada por um processo de universalização.
Em Portugal, no dealbar da República, Michel’angelo Lambertini (1862-1920), Alfredo Keil (1850-1907) e António Lamas (1861-1915), figuras que, por outros motivos, se destacaram na vida musical nacional desse período, acompanharam essa tendência e formaram as suas próprias coleções instrumentais. Os dois primeiros, convencidos da sua importância didática, idealizariam inclusive projetos para a fundação de museus de instrumentos musicais no país. Atualmente, grande parte das suas coleções pertence ao Museu Nacional da Música, mas ainda pouco se sabe sobre os desígnios que estiveram por detrás da sua constituição, o discurso que com elas os colecionadores pretenderam patentear e o impacto que tiveram na e para a musicologia e na vida musical portuguesa da sua época.
Através da elaboração de um catálogo raisonné das coleções destas três personalidades, procurar-se-á desvendar o que os terá motivado a iniciá-las e quais os processos que envolveram a sua formação, assim como propor uma visão de conjunto de cada uma delas, que permita evidenciar a identidade colecionística de cada um deles, com o intuito de traçar um retrato do colecionismo de instrumentos musicais no país e posteriormente enquadrá-lo no panorama europeu.