Fragmentação e Reconfiguração: a experiência da cidade entre arte e filosofia

A relação entre as artes e a cidade alcançou novas e significativas formas no último século e meio, coincidindo com o desenvolvimento da metrópole moderna. Isto decorre do facto de as cidades serem um tema estético estimulante, no sentido mais lato da noção de estética, tanto no que diz respeito à forma como sentimos e percebemos, como às estruturas espaço-temporais que condicionam as nossas experiências. O projecto visa investigar a experiência estética da cidade através de duas estratégias que combinam a contribuição da filosofia e dos estudos artísticos/práticas. Em primeiro lugar, centrar-se-á em estudos de caso de fotografia, cinema, arquitectura, literatura e arte sonora/música que tratam da cidade, em particular da cidade de Lisboa; e, em segundo lugar, reavaliará a tensa relação entre a fragmentação e a reconfiguração, tal como explorada no pensamento morfológico de Goethe e em autores que com ele têm afinidade (como, por exemplo, Simmel, Benjamin, Nietzsche, Wittgenstein, Foucault, Deleuze, Joyce, Proust e Pessoa). O projecto defende que as práticas artísticas absorvem e respondem à fragmentação da experiência humana nas cidades modernas, explorando uma tensão criativa entre fragmentação e reconfiguração capaz de abrir um espaço diferencial. Este “espaço para brincar” artístico pode, assim, perturbar as imagens homogéneas das cidades contemporâneas criadas pelos processos capitalistas e de globalização. Os aspectos positivos desta dinâmica disruptiva na cidade de Lisboa estão ainda por determinar, bem como o impacto que têm na intersecção entre a experiência estética e os elementos sócio-políticos decorrentes da tarefa crítica da arte.