SingingWomb – Saúde da mulher, bem-estar na grávida e vínculo perinatal: contributos do canto pré-natal

SingingWomb – Saúde da mulher, bem-estar na grávida e vínculo perinatal: contributos do canto pré-natal

Investigador principal: Eduarda Carvalho

Resumo

O canto materno surge, na sua origem, como uma prática ancestral com valor adaptativo e de proteção do bebé. Cantar para bebé desde o seu desenvolvimento intrauterino tem sido apontado na literatura como uma experiência promotora do desenvolvimento de uma ligação afetiva materno-fetal. No entanto, ainda são desconhecidos os processos pelos quais o canto materno e a sua qualidade vocal poderão contribuir para o desenvolvimento deste vínculo perinatal. Também ainda se desconhece se o canto pré-natal tem impacto no comportamento do feto e do recém-nascido. Este estudo exploratório teve como principal objetivo a promoção da saúde e do bem-estar da mulher durante a gravidez, assim como a promoção da vinculação perinatal, através de experiências mediadas pelo canto pré-natal. Com este projeto pretendeu-se reforçar a inovação no sector da saúde e da comunidade, respondendo ao objetivo de desenvolvimento sustentável (ODS) número 3 reportado na Agenda 2030.

Metodologia: Sendo o escutar de música durante a gravidez associado a uma melhora da maturação neuronal neonatal, mas desconhecendo-se as contribuições do canto pré-natal ao comportamento neonatal e não se compreendendo o contributo da propagação acústica do humming maternal no interior do útero à maturação neuronal fetal e neonatal, 22 mulheres grávidas com gravidez de baixo risco obstétrico foram distribuídas de forma sequencial em três grupos: 1) grupo de treino vocal (GTV), com exercícios específicos desenhados para desenvolver a coordenação fono-respiratória e as ressonâncias vocais propagadas subgloticamente, ou, por outras palavras, através das vibrações dos tecidos do corpo materno mais próximos ao feto; 2) grupo de musicoterapia (GMT), com o foco no canto dirigido ao feto; 3) grupo de controlo (GC), sem canto pré-natal. Foi feita uma análise multidisciplinar envolvendo a aplicação das escalas Escala de Ansiedade, Depressão e Stress (EADS) e Escala de Vinculação Materna Pré-Natal (EVMPN) e uma sessão protocolada de leitura e registo acelerométrico (ACC), áudio (em proximidade e à distância de 30 cm), cardiotocográfico (CTG), electrodérmico (EDA) e electrolaringográfico (ELG) às 32 e 37 semanas de gestação (SG). O protocolo da sessão consistiu na execução de tarefas de naturezas variadas: leitura de um conto, humming, vocal toning, o canto de uma canção de embalar e comunicação livre dirigida ao feto. No decorrer do período entre as 32 e 37 SG foi feita uma recolha salivar bi-diária a fim de obter registo dos níveis de cortisol, bem como, para as participantes do GTV, definidos exercícios diários especificamente criados para estas executarem autonomamente.

esquema dos vários registos efectuados às 32 e 37 SG

Durante este mesmo período houve também uma sessão de grupo por semana para cada um dos GTV e GMT. Uma ou duas semanas após o parto houve uma aplicação das escalas Escala de Ansiedade, Depressão e Stress (EADS), Escala de Vinculação Materna Pré-Natal (EVMPN) e Observação do comportamento neonatal (NBAS).

sessão de grupo do GTV à esquerda e do GMT à direita

Resultados preliminares: Neste estudo, ainda que com um carácter exploratório, os resultados sugerem que as mulheres grávidas que experimentaram sessões de canto pré-natal com exercícios dirigidos a um tipo de fonação com maior ressonância subglótica, as participantes do GTV, apresentaram alterações no seu tipo de fonação neste sentido. Este aumento da ressonância subglótica parece resultar num timbre que parece ser compreendido por estas mães como uma experiência vibroacústica mais rica que as conecta melhor aos seus fetos. Este resultado explica assim a forte correlação positiva encontrada entre o timbre materno e a vinculação materno-fetal, embora esta vinculação tenha aumentado, de acordo com a escala MAAS, mais no grupo que vivenciou as sessões de musicoterapia, o GMT. Neste último grupo, a voz mais intimista dirigida ao “bebé imaginário” levou a que as mães diminuíssem a intensidade do seu som subglótico, explicando a correlação negativa encontrada para este grupo entre a vinculação materno-fetal e a intensidade sonora subglótica.

Embora sem diferenças significativas entre grupos, tanto pré quanto pós o período de intervenção, através da escala EADS observou-se um aumento dos níveis de ansiedade e stress para as participantes do GTV, possivelmente devido à crescente consciência do que poderia ser a qualidade de uma boa voz para um melhor vínculo com o feto. Em sentido contrário, foi observada uma diminuição dos mesmos níveis para as participantes do GMT e GC. Para os níveis de depressão observou-se uma diminuição tanto para as participantes do GTV quanto para as participantes do GMT, tendo sido uma diminuição mais pronunciada nestas últimas.

Embora não se tenham observados diferenças significativas entre os grupos para a variabilidade cardíaca do feto tanto pré quanto após o período de intervenção, observou-se uma maior variação de respostas cardíacas dos fetos dos grupos GTV e GMT durante os períodos de exposição à voz materna comparativamente aos perídos de silêncio. Nos fetos do GTV observou-se serem mais responsivos ao canto materno e à comunicação materna dirigida ao feto. No caso dos fetos do GMT observou-se uma maior responsividade durante os períodos da leitura da história e do canto materno.

Os recém-nascidos dos grupos GTV e GMT, sem diferenças significativas entre eles, apresentaram valores mais elevados de amplitude dos estados da escala NBAS comparativamente ao do GC.

Mais informações em: https://unedvoicelab.com/pt/projecto-singingwomb/

Período de implementação
2023-2025
Acrónimo
SingingWomb
Referência
2022.01750.PTDC
Financiamento total
48.693,90 €
Instituição financiadora
Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), I.P.
Data de início de financiamento
01/01/2023
Data de fim de financiamento
31/01/2025
Palavras-chave
Gravidez; Bem-estar; Vínculo Perinatal; Canto Pré-natal
Parcerias

Maternidade Dr. Alfredo da Costa

UNED VoiceLab (Laboratorio de Voz, Música y Lenguaje – UNED) (Espanha)

Equipa

Alexandra Queirós | João Justo | Magda Sofia Roberto | Cláudia Quaresma

Bolseiros
Inês Garcia | Margarida Botelho I Ricardo Panela
Grupo de investigação