À conversa com … #1 Luís Tinoco
Pergunta (P): É a terceira personalidade musical a ser distinguida com um prémio que propõe reconhecer os que na vida cultural e científica portuguesa se destacam. É também um dos mais jovens premiados. Qual o significado que atribui a esta condecoração?
Resposta (R): Vejo esta distinção como um enorme incentivo e um reconhecimento que só poderia honrar-me profundamente. O trabalho de composição no domínio da música de tradição escrita é, em grande medida, um trabalho solitário, cujos resultados não circulam com facilidade nos nossos palcos e meios de divulgação. Nesse sentido, a atenção do Júri do Prémio Pessoa assume uma grande importância, permitindo atrair maior visibilidade tanto para o meu trabalho como para a música que é escrita e interpretada pelos meus colegas. Fico particularmente feliz se esta distinção beneficiar a música portuguesa num âmbito mais abrangente, não apenas no que se refere ao trabalho de criação mas, também, ao trabalho dos intérpretes e dos investigadores.
P: Além de compositor, docente, programador e divulgador musical, o seu percurso passa também pela investigação, sendo actualmente membro
R: Interessa-me, fundamentalmente, o fenómeno da criação. Encontrar respostas para problemas de composição, reflectir sobre os desafios colocados em cada nova partitura, pensar em soluções que me permitam evoluir e renovar os meus métodos de trabalho. Interessa-me, também, de forma muito intensa, estar atento ao que vai sendo criado pelo mundo fora, por músicos de diferentes gerações e correntes. Interessa-me não ficar fechado em “tribos” (as minhas ou as de outros). Interessa-me perceber e encontrar um sentido para a prática da criação, especialmente num tempo em que muita da realidade que observo revela-se sombria, injusta e ameaçadora. Essencialmente, interessa-me responder ao impulso da escrita, sem descuidar a procura de um sentido para se fazer música, hoje.
P: Como caracteriza a sua relação entre a investigação e as demais actividades que exerce? Partilhe, se achar oportuno, algum momento em que o perfil de investigador ou os frutos recebidos via investigação se mostraram úteis numa outra área profissional.
R: A minha principal actividade de investigação está directamente ligada à prática da composição. Cada escrita de uma página de música implica, naturalmente, esforço e reflexão. E, consequentemente, aprendizagem. O que retiro desse processo posso depois aplicar na forma como ensino e divulgo, tanto no contexto académico como nas outras actividades que exerço no domínio da rádio e da (pontual) direcção artística de projectos e festivais.
P: A sua relação com o Centro passa pelo pólo na Escola Superior de Música de Lisboa, onde é actualmente docente e em tempos se formou em composição. Conte-nos um pouco da sua relação com a Escola e o que o fez — após conhecer a Royal Academy of Music e a Universidade de York — voltar a casa.
R: Regressei à minha alma mater a convite de Christopher Bochmann, que manifestou vontade de alargar o corpo docente da ESML com professores / compositores que tivessem abordagens diferentes da sua. Achei essa postura bastante estimulante e que me permitiria contribuir, na medida das minhas capacidades, para a construção de um corpo docente diverso. Essa tem sido uma das riquezas do departamento de Composição da ESML ao longo dos anos, oferecendo aos alunos visões de pessoas tão diferentes e com leituras por vezes profundamente antagónicas sobre o fenómeno da criação. Essa pluralidade, o facto de me ter sido oferecido espaço para fazer o meu trabalho com total liberdade e, ainda, o meu apreço pela luz de Lisboa, são alguns aspectos que estão na base dessa decisão de regressar.
P: Algum objectivo ou projecto futuro que possa partilhar connosco?
R: Neste momento estou a trabalhar na composição de uma peça orquestral para um bailado do Coreógrafo Paulo Ribeiro, intitulado “Louis, Lui” e que será estreado em Dezembro no Festival de Dança de Cannes. Estou também a colaborar com a escritora Luísa Costa Gomes para a criação de uma ópera de câmara que nos foi encomendada pela Comissão para as Comemorações do V Centenário de Luís de Camões.
Seguiremos atentos ao percurso de Luís Tinoco. Enquanto isso, continuaremos À conversa com…