Performance e Contexto
Programa/Apoio: Concurso Anual para Projetos de Investigação, Desenvolvimento, Inovação e Criação Artística (IDI&CA) do IPL – 2018
Responsável principal: Ricardo Pinheiro
Equipa: Ricardo Pinheiro, Carlos Caires, Jorge Ramos (Bolseiro FCT), João Silva (Bolseiro FCT)
Estado: Em execução
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O projecto Performance e Contexto tem por objectivo principal a performance, o registo audiovisual, e a reflexão académica em torno de objectos artísticos, nomeadamente no campo da performance musical.
Através de actividade musical, criativa e sistemática, e a partir da aplicação ou incorporação de novo conhecimento no âmbito desta actividade (por exemplo em termos de interpretação, prática performativa historicamente enquadrada ou de inovação técnica), pretende-se estimular não só a performance, como também o debate teórico, estético e filosófico, sobre a prática artística.
A partir do envolvimento de alunos e professores da ESML, registar-se-á em áudio e vídeo um conjunto de performances musicais provenientes dos mais variados universos estéticos, assim como também entrevistas com os músicos envolvidos no processo performativo. Serão igualmente produzidos textos de reflexão sobre contextos e processos, por forma a aprofundar a discussão sobre métodos de procura, recolha, arquivo, interpretação, explicação, e experimentação, assim como também sobre as motivações, inspirações, e discussões subjacentes ao processo de formulação de problemáticas, desde a concepção até à implementação, publicação, e avaliação de um objecto artístico.
Memória descritiva
Pretende-se que a performance musical seja o ponto de partida para a escolha e reflexão das questões teóricas a discutir. A prática artística contemporânea detém um papel fundamental na formação do contexto no qual a investigação tem relevância, e a prática musical (interpretar, compor) é também parte constituinte do método e meios a partir dos quais surgem novas perspectivas e produtos. Os resultados da investigação são, preferencialmente, novas práticas, abordagens, e/ou produtos artísticos.
Ao contrário de num trabalho puramente teórico, a reflexão e contextualização têm como finalidade acompanhar a apresentação de um produto artístico, e deverão servir para elucidar sobre os resultados do processo artístico.
Apesar de ter sido amplamente discutido e desenvolvido a partir da década de 1990, o conceito de prática artística enquanto investigação sofreu um impulso relativamente recente. Na verdade, há poucas décadas, a prática e criação musical estava separada da investigação científica, não merecendo ser constituída enquanto “verdadeira investigação”. Vários autores como Borgdorff (2006, 2008, 2012) apontam para uma recente emancipação da investigação artística em relação ao paradigma científico que estabelece a noção problemática da objectividade científica enquanto desiderato final na investigação. Segundo o autor: “We knew we would face tough resistance, and, though that may dampen our spirits from time to time, it is a challenge we can meet”. (Borgdorff, 2006, p. 20).
De acordo com o “Research Assessment Exercise 5” (2001):“(…) performance will be accepted as research where it applies or embodies new or substantially improved knowledge or insights, for instance in terms of interpretation, historical performance practice, or technical innovation. Performance is understood to include conducting (…) as well as instrumental or vocal execution (…)” (Research Assessment Exercise 5, 2001).
Podem-se identificar quatro patamares de profundidade reflexiva em relação à prática e criação musical. O primeiro tem que ver com o acto de interpretar, improvisar e criar música. O segundo patamar diz respeito à recolha de informação contextual para informar a criação e prática musical. Trata-se de prática musical informada. O terceiro compreende uma reflexão sobre a prática musical e sobre a informação contextual recolhida, por forma a aprofundar a perspectiva e compreensão sobre o fenómeno criativo e artístico. Trata-se de investigação para a arte. O último patamar compreende o processo que parte da prática e da criação musical, da localização e enquadramento desta reflexão, a informação contextual e a própria prática e criação musical no seio de um sistema metodológico rigoroso. Podemos chamar a este último estádio – investigação através da arte (Frayling, 1993/1994; Crispin, 2016).
Torna-se pois determinante fazer-se perguntas sobre a experiência artística, por forma a aprofundarmos o conhecimento sobre música e performance, assim como os principais pressupostos teóricos e contextuais que as enquadram.
Referências bibliográficas
Borgdorff, H. 2006. The Debate on Research in the Arts. Sensuous Knowledge 2. Bergen: Bergen National Academy of the Arts.
Borgdorff, H. 2008. Artistic research and academia: An uneasy relationship. The Yearbook on Artistic Research (pp. 82–97, 192–208), Swedish Research Council.
Borgdorff, H., 2012. The Conflict of the Faculties: Perspectives on Artistic Research and Academia. Leiden: Leiden University Press.
Crispin, D. 2016. Artistic research and music scholarship: musings and models from a continental European perspective, in M. Doğantan-Dack, ed., Artistic Research as Research in Music: Theory, Criticism and Practice. Farnham: Ashgate. pp. 53-72.
Frayling, C. (1993/1994). Research in Art and Design. Royal College of Art Research Papers 1 (1): pp. 1-5.
http://portfolios.esml.ipl.pt
https://research.esml.ipl.pt/index.php/investigacao/projectos/item/44-portfolios