A Libreria Musicale Italiana (LIM) publica estudo e edição crítica de obra de Niccolò Jommelli (1714-1774) existente na Biblioteca Nacional de Portugal: o Laudate pueri Dominum a 16 vozes estreado na Basílica de São Pedro (Roma, 1750)

Em 2003, uma raríssima e monumental obra – única nas colecções de música da Biblioteca Nacional de Portugal – para 4 coros (16 vozes) e baixo contínuo (3 órgãos), foi encontrada no Fundo do Conde de Redondo (P-Ln, F.C.R. 549).

À obra encontrada, a única fonte conhecida, falta o primeiro caderno (as primeiras 8 páginas), onde estava originalmente registado o nome do autor, o título e o ano de composição, além da instituição a que se destinou. A consequência foi a sua permanência num limbo anónimo durante mais de cem anos. As características do manuscrito permitiram estabelecer tratar-se de um autógrafo (o testemunho da criação) do salmo 112, Laudate pueri Dominum, composto para uma ocasião de inusitada relevância social, política e/ou religiosa. A consulta dos catálogos em busca de um possível autor revelou-se infrutífera. Três anos mais tarde, uma análise caligráfica comparativa permitiu finalmente identificá-lo: o napolitano Niccolò Jommelli (1714-1774) que, pouco antes da sua morte, era considerado um dos maiores compositores vivos, vindo posteriormente a ser consistentemente incluído na plêiade dos mais memoráveis autores do século XVIII. Investigações posteriores comprovaram que a obra fora estreada com pompa e magnificência durante a cerimónia de Segundas Vésperas da Festa de S. Pedro e S. Paulo (1750), na Basílica de São Pedro, em Roma. É uma obra única e extraordinária – e até à sua identificação, completamente desconhecida – no contexto da produção policoral sacra de Jommelli: o extenso e minucioso catálogo temático de Wolfgang Hochstein, Die Kirchenmusik von Niccolò Jommelli (1714-1774), não regista nenhum exemplo para mais de dois coros (8 vozes). Além de ser a obra de estreia de Jommelli na basílica vaticana, utilizou dois coros colocados no varandim por baixo da grande cúpula, a uma distância de cerca de 53 metros dos coros colocados junto ao altar. As soluções policorais aí contidas demonstram um alto grau de experimentação pelo – recentemente contratado – maestro assistente na Basílica de São Pedro. As circunstâncias e eventuais razões do seu desaparecimento do repertório, assim como o percurso até ao seu presente destino, são explanadas no livro que acaba de ser publicado pela Libreria Musicale Italiana (Saggi Ruspoli), que tem a sua génese na menção especial que o ensaio incluso ganhou no 6º Concurso Internacional de Estudos Musicológicos Príncipe Francesco Maria Ruspoli (Vignanello, 2014). A pedido do editor Giorgio Monari, e a fim de recuperar este precioso património possibilitando o estudo aprofundado pelos especialistas e dando-o a conhecer ao público amante de música, a segunda parte de Niccolò Jommelli’s Laudate pueri Dominum from Biblioteca Nacional de Portugal inclui a reconstrução e edição crítica da obra.

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António Jorge Marques

Página 2 do autógrafo, Laudate pueri Dominum (F.C.R. 549)