MUSICAR – Prática musical para pessoas com cegueira ou baixa visão e surdas
Resumo
O projecto MUSICAR visa proporcionar o acesso à música a indivíduos cegos e surdos através da criação de aulas teóricas e de prática musical em conjunto na Metropolitana – instituição que promove a formação musical nos vários níveis de ensino (básico, secundário e superior). Outro dos objectivos passa pela formação dos seus músicos, professores e alunos de licenciatura para o ensino da música a estas comunidades, o que permitirá disseminar as práticas desenvolvidas neste projecto e perspectivar a sua futura adopção num âmbito mais alargado.
A Metropolitana propõe-se implementar as melhores práticas, metodologias, conteúdos e recomendações curriculares, além de materiais e equipamentos de uso comprovado para a prática musical de pessoas com deficiência visual e auditiva, através de cursos de formação com mentores de dois projectos anteriores: Filarmónica Enarmonia (uma orquestra de sopros para cegos, pessoas com baixa visão e indivíduos sem deficiência visual) e Mãos que Cantam (um coro de professores surdos, que executa obras vocais em Língua Portuguesa gestual).
Não obstante a abrangência e aplicabilidade dos métodos de ensino musical desenvolvidos nestes projectos, o seu âmbito não cobre todos os instrumentos de orquestra. Assim, esta iniciativa propõe prospectar e criar metodologias para a aprendizagem de outros instrumentos de cordas por alunos com deficiência visual, cuja utilidade será também validada por instituições de cegueira, professores de educação especial e psicólogos. Para além disso, será também avaliada a eficácia do ensino de instrumentos de percussão à comunidade com deficiência auditiva.
Após a primeira fase de formação dos professores e alunos de graduação da Metropolitana, ocorridas no primeiro quadrimestre, iniciaram-se as actividades junto a essas comunidades. Entidades parceiras e escolas especializadas para cegos e surdos encaminharam os alunos – crianças, jovens e adultos – para participarem das aulas, dos ensaios e de um concerto final.
Nos três meses seguintes, antes das férias de verão, realizaram-se aulas de teoria musical e oficinas de experimentação de instrumentos, possibilitando-se uma experiência semanal com a música, no caso dos alunos, e o exercitar das aprendizagens adquiridas nos cursos de formação, para os professores.
No início do ano lectivo seguinte, os alunos cegos e surdos integraram uma classe de percussão e um coro participativo, onde poderam aplicar a sua formação musical aperfeiçoada e, sobretudo, utilizar, com sentido artístico, os seus meios de leitura e conversação – o Braille e a Língua Gestual Portuguesa.
Num concerto final, a Metropolitana ofereceu o palco a estes grupos, bem como a instrumentistas e maestros com deficiência visual que tenham obtido sucesso nas suas carreiras musicais. Assim, neste concerto inclusivo, a Metropolitana procurou também sensibilizar o público em geral para respeitar e admirar as pessoas com deficiência visual e auditiva e compreender a urgência de um acesso democrático às artes para todas as comunidades.
Pouco depois do concerto, o extenso manual de boas práticas e metodologias para o ensino da música a cegos e surdos daí resultante será integrado no currículo da Metropolitan e estará disponível para outros institutos. Será também publicado online um documentário que ilustra as várias fases do projecto. Ambos os conteúdos servirão, esperamos, como ferramentas úteis para a replicação da iniciativa nos anos seguintes e para a sua implementação noutros institutos artísticos.