Music in Frames I: O erro de Schaeffer?

Pelo Núcleo de Música e Pensamento

Outono de 2021

Ciclos de cinema MUSIC IN FRAMES

“Music in Frames” é uma iniciativa do Grupo de Teoria Crítica e Comunicação do CESEM, que visa discutir questões relevantes para a musicologia e a sétima arte. Realizando-se no outono e na primavera em diversos locais em Lisboa, cada ciclo temático será delineado por um dos núcleos ou linhas associados ao GTCC.

Entre as ideias que marcam o legado especulativo de Pierre Schaeffer, encontramos a controversa e fascinante “escuta acusmática”, a proposta de uma “escuta reduzida” que pressupõe a existência de sentidos latentes na experiência do ouvinte e a permanência de um estágio anterior ao aparato semiótico da condição da linguagem ou das referências indiciais que acompanham cada som. A escuta acusmática ganha particular força com a vulgarização das tecnologias de gravação/reprodução – as quais dissociam o som da fonte – e dos meios de produção, de tal forma que recentram a atenção no próprio ato de escutar.

Apoiado na problematização da aura do original sugerida por Walter Benjamin, na dicotomia entre original e cópia (efemeridade e fixação) que dela resulta e no estranhamento que emerge da dissociação entre voz e corpo, este ciclo de cinema propõe-se fomentar reflexões sobre a importância da escuta nas relações que mantemos com o registo sonoro, com as cópias que deles fazemos e com as interferências compreensivas a que os sujeitamos. Assim, anuncia no seu título a provocação benévola de questionar a validade de uma escuta desprovida de referências, independentemente das transformações e das descontextualizações em causa.

A primeira sessão terá por objecto o filme Diva (1981) de Jean-Jacques Beineix e será conduzida por João Pedro Cachopo. Seguir-se-ão sessões em torno de L’inhumaine (1924) de Marcel L’Herbier (por Bárbara Carvalho), Berberian Sound Studio (2012) de Peter Strickland (por Filipa Cruz), Blow Out (1981) de Brian De Palma (por Guilherme Granato) e The Conversation (1974) de Francis Ford Coppola (por Nuno Fonseca).