Luís Bastos Machado
O pianista Luís Bastos Machado é actualmente um investigador no CESEM (grupo de Teoria Crítica e Comunicação) e doutorando na FCSH – NOVA. Foi-lhe atribuída uma bolsa de doutoramento da FCT para um projecto de investigação sobre a evolução das práticas de actuação nas obras para piano de Brahms na primeira metade do século XX no contexto transversal da mudança de paradigma estético nas artes, sob a orientação do Professor Doutor Paulo Ferreira de Castro. Começou a aprofundar um interesse pessoal por gravações e intérpretes do início do século XX durante o seu mestrado em Piano Performance na Royal Academy of Music de Londres, onde estudou piano com Daniel-Ben Pienaar e música de câmara com Andrew West. Tem actuado regularmente em Portugal, Reino Unido e Alemanha, tanto a solo como em formações de câmara. Participou em vários festivais nacionais e internacionais e gravou para a RTP Antena 2 e para a rádio pública alemã Deutschlandfunk. Iniciou os seus estudos musicais no Instituto Gregoriano de Lisboa, com Maria de Fátima Fraga e Eurico Rosado, tendo também sido aluno particular de António Toscano durante vários anos. Ingressou na ESART para estudar a nível superior com o pianista brasileiro Caio Pagano e recebeu ao longo dos seus anos de licenciatura todas as bolsas de mérito, prémios e troféus da instituição, antes de prosseguir a sua formação na Royal Academy of Music.
Com o advento e consolidação do(s) Modernismo(s) nas artes, entre finais do século XIX e inícios do século XX, há uma mudança transversal de paradigma estético. Entre outros aspectos, existem tendências para a procura de objectividade e de autonomia artística. A actuação musical não será impermeável a tais desenvolvimentos — são audíveis em gravações da época mudanças na forma de abordar o repertório e de lidar com a partitura. Preliminarmente, estas parecem traduzir-se numa maior literalidade em relação ao texto musical e menor flexibilidade temporal, com intérpretes e compositores a assumirem uma busca por objectividade. Johannes Brahms, pela percepção que imprime na sua época como modelo da música absoluta, compositor “clássico” entre os românticos e intelectual, e pela proximidade com a figura de Clara Schumann e o tipo de pianismo que esta representa, ocupa um lugar especial nesta transição de valores estéticos. A presente investigação pretende, de forma interdisciplinar, partindo de documentos textuais e de uma análise sistemática de gravações, pesquisar se e de que forma a interpretação das suas obras para piano se vai tornando mais modernista durante a primeira metade do século XX, afastando-se das práticas de actuação originais e criando um novo cânone interpretativo para o compositor.