Música e Interpretação
Nas últimas décadas, a performance musical tem vindo a ganhar importância como objecto de estudo musicológico sob uma diversidade de perspectivas. A linha temática Música e Interpretação agrega investigadores dos vários Grupos e Pólos do CESEM com interesse no estudo académico da prática e da interpretação musicais, visando, por um lado, facilitar o diálogo e a partilha de diferentes abordagens e metodologias entre os seus membros e, por outro, constituir- se como veículo para iniciativas — de cariz académico mas não só — no âmbito da criação de conhecimento nesta área, procurando contribuir para a promoção de interacções entre investigação e prática musical.
Pretende-se que o carácter transversal da linha temática promova um enriquecimento da discussão sobre a prática musical, através do cruzamento de ideias entre investigadores oriundos de campos de investigação variados. Mas este enriquecimento pela diversidade deverá também ser reflectido numa inclusividade em relação aos estilos e géneros musicais estudados, devendo ser confrontados criticamente os pressupostos de ordem ideológica que contribuíram (e contribuem ainda) para um estatuto privilegiado da música erudita ocidental na musicologia. Assim, esta linha temática não se cinge apenas ao estudo da música erudita, podendo sim abranger a diversidade de estilos e géneros musicais do passado e do presente de cujo acto performativo existam registos ou testemunhos, incluindo também, entre outras, a improvisação, músicas tradicionais, jazz, música popular, música electrónica e contemporânea, e procurando analisar a actuação musical em várias dimensões.
Dentro das diversas modalidades de investigação musicológica, a matriz da linha abrange de forma natural a filosofia, a história, a teoria e a análise da interpretação e da improvisação, os performance studies, o campo da prática artística como investigação (practice as research), assim como o ensino e a psicologia da performance. Os tópicos trabalhados são, portanto, de natureza variada, e incluem: a relação com o texto musical (quando este existe); a temporalidade musical nas suas várias acepções; corporalidade e instrumento; o valor da imperfeição; o conceito de obra; a música entre processo, resultado, corpo/objecto e experiência; tradições interpretativas; questões estilísticas e a sua contextualização; relações entre actuação musical e público; relações entre actuação musical e outros actos performativos (teatro e outras artes); entre outros.
Os objectivos estabelecidos são:
• Agregar numa mesma plataforma investigadores do CESEM com interesses diversos na prática musical e na interpretação, fomentando o trabalho colaborativo e a partilha de ideias e perspectivas variadas.
• Reforçar laços entre a musicologia e a prática e interpretação musical, nomeadamente no panorama nacional, criando oportunidades para a produção de conhecimento e promoção de interacções entre investigação e prática musical.
• Enriquecer a discussão musicológica ao articular as diversas perspectivas e metodologias presentes na linha na abordagem a tópicos relevantes.
Promover uma visão crítica da prática interpretativa ao longo do tempo, relacionando-a com o seu contexto histórico e cultural.
• Submeter a análise as bases das práticas musicais e musicológicas no sentido de identificar factores de ordem ideológica nos seus pressupostos (especialmente na música erudita ocidental).
• Contribuir para a divulgação e adopção de metodologias e abordagens musicológicas recentes, baseadas na prática musical, com o seu potencial de oferecer novas perspectivas aos objectos de estudo.
Anita Posateri (Unibo/UNL) | Octávio Martins | Paulo Pacheco (ESML/IPL) | Teresinha Prada (UFMT)