Conservatório Regional do Algarve – Maria Campina (Faro)

EnIM 24 | Participação CESEM

O EnIM 24 | XIII Encontro de Investigação em Música decorrerá no Conservatório Regional do Algarve – Maria Campina (Faro), de 7 a 9 de Novembro. O CESEM estará representado por 25 investigadores.

Andrew Woolley, membro integrado do Grupo de Estudos de Música Antiga e Investigador Principal do CESEM, apresentará trabalho codicológico sobre o Livro de Bouro, um manuscrito importante conhecido principalmente pelo seu repertório de música para órgão, centrando-se no papel e possível identidade do escriba principal.

Ângela Flores Baltazar, doutoranda em formação e colaboradora do GTCC, apresentará a comunicação “Divulgar a música na Televisão: A Telescola e o ensino público da música em Portugal entre 1964 e 1975”, que visa partilhar os resultados obtidos na análise de fontes primárias referentes à Telescola entre 1964 e 1975. Nesta apresentação, será abordado o papel dos meios de comunicação na educação em Portugal, e o modo como a divulgação cultural, e a música em particular, integra a curadoria pública da televisão, problematizando a distribuição  em massa dos produtos culturais.

Bernadette Nelson, investigadora do CEECIND 2017, apresentará algumas reflexões sobre a música e a cerimónia na capela real portuguesa no tempo de Dom João III: “The Vila Viçosa Ceremonial da Capella del Rey, and Contexts for Ritual, Ceremony, and Music at the Royal Chapel of Dom João III (r. 1521-57)”.

Caio Priori dos Santos, investigador doutorando, membro do projecto “História Temática da Música em Portugal e no Brasil” e colaborador do GTCC, apresentará a comunicação intitulada “O ‘Violão Brasileiro’ na imprensa periódica no fim do século XIX e início do século XX”. Nesta apresentação, Priori dos Santos examinará como o termo “Violão Brasileiro” emergiu, identificando padrões de utilização e compreendendo a influência das publicações periódicas na sua formação e na sua propagação enquanto expressão, com base em fontes da Hemeroteca Digital da Fundação Biblioteca Nacional do Brasil (BNDigital).

Catarina Braga, doutoranda e membro do Grupo Música no Período Moderno, localiza as “Sociedades dramático-musicais de Lisboa entre 1880-1910” com o intuito de discutir a vida cultural em Lisboa fora dos grandes teatros.

Diogo Alvim, investigador integrado do CESEM e membro do Grupo de Investigação em Música Contemporânea, irá propor uma reflexão sobre o processo de criação musical enquanto dispositivo artístico, procurando elaborar mecanismos que transponham os limites da “obra”, ensaiando diferentes formas de interferência do mundo na obra, e inscrição desta no mundo. Para o ilustrar, irá apresentar duas peças recentes, que exploram diferentes mecanismos e dinâmicas extra-musicais na construção de sentido.

Gonçalo Valente, mestrando em Artes Musicais na NOVA-FCSH e colaborador do GIMC, apresentará o estado actual da sua investigação de Mestrado. Com uma comunicação intitulada “Características Tímbricas e Descrição Semântica dos Sons”, Gonçalo Valente pretende estabelecer conclusões concretas entre parâmetros objectivos dos espectros sonoros de sons sintetizados e a respectiva descrição semântica em português europeu, numa investigação transdisciplinar entre psicoacústica e linguística.

Joana Freitas irá apresentar a comunicação intitulada Da imaginação ou o musicar do quotidiano: reflexões sobre a (re)definição de géneros musicais online, procurando examinar o modo como – na era da abundância digital – a ubiquidade da música e a convergência mediática entre videojogos, cinema e televisão têm transformado as práticas de escuta e remediação musical. Em contextos online, as práticas musicais dos utilizadores reflectem cada vez mais uma curadoria baseada em moods e atmosferas, em vez de géneros formais, recorrendo a playlists e compilações que procuram personalizar o quotidiano. Esta análise destaca ainda a predominância de uma sonoridade orquestral devidamente trabalhada e a importância dos metadados na construção de imaginários em plataformas como o YouTube, onde o conteúdo musical circula sem fronteiras, criando potenciais bandas-sonoras para o dia-a-dia.

Com base na recolha e análise de mais de 250 documentos preservados no acervo de Mário de Andrade (IEB-USP), Juliana Wady examina a relação do consagrado escritor e musicólogo brasileiro com a música portuguesa e seus agentes. O estudo explora, de um lado, como a música portuguesa — folclórica, urbana ou erudita — aparece no trabalho sistemático de Andrade, seja em partituras, discografias ou referências bibliográficas. De outro, com foco na análise de sua correspondência, destaca-se como o interesse pela música de Portugal e seus compositores serviu como uma ferramenta essencial para a criação e manutenção de vínculos entre Andrade e figuras relevantes do contexto artístico-intelectual português. Ambas as abordagens conectam o musicólogo brasileiro a nomes como Francine Benoît, José Osório de Oliveira, Adolfo Casais Monteiro, Luiz Moita e Gastão de Bettencourt, entre outros. Com ênfase especial na década de 1930 e considerando os contextos que cruzam o espaço luso-brasileiro, a comunicação discute as relações entre música e Portugal no pensamento de Andrade para além de sua obra publicada, contribuindo para a compreensão das redes de trocas e sociabilidades que marcaram a partilha musical no cenário luso-brasileiro do início do século XX.

Luciano Botelho da Silva, bolseiro de doutoramento do projecto “História Temática da Música em Portugal e no Brasil”, apresentará a comunicação “O Teatro de ópera no Rio de Janeiro em meio à Revolta Armada de 1893-94: O caso de Marino Mancinelli” evidenciando as relações do maestro italiano com Portugal e Brasil em um período marcado por embates políticos e uma profunda crise económica dentro e fora dos palcos cénicos dos dois países.

Luísa Correia Castilho, membro integrado do CESEM, apresenta uma comunicação na sessão sobre Desafios da Patrimonialização da Música e Som com o título “Um olhar sonoro pelas colchas de Castelo Branco”, tendo como objectivo analisar e caracterizar os motivos que sugerem de algum modo qualquer tipo de som. Vai também moderar a sessão Crítica Musical nos séculos XIX e XX.

Luís Neiva, investigador doutorando, apresentará a comunicação: “Cantar para mortos: A polifonia renascentista na relação com o passado”, uma reflexão sobre o conceito de tradição e como o passado deve ser encarado como uma categoria ideológica através da análise das missas de requiem ibéricas do Renascimento e do sentimento anti-polifonia manifestado por algumas vozes mais conservadoras dentro da igreja.

Manuel Pedro Ferreira indagará, na sua comunicação, a possível influência da música medieval na sua própria música coral e de câmara. Depois de se focar nos usos que Jorge Peixinho e Constança Capdeville deram à música mais antiga, pergunta, primeiro, em que medida a relação aí observada entre música medieval e o processo criativo terá sido, na própria obra, prolongada ou modificada. A ter havido mudança, coloca-se uma segunda questão: se terá resultado da sua identidade musicológica, da sua personalidade artística, ou talvez, de uma inclinação estética comum à sua geração (ou parte dela); caso em que poderemos tratar tal mutação como sintoma de algo mais vasto e significativo na história da música recente. Uma análise dos processos composicionais, por tipologia de uso, conduzirá paulatinamente à conclusão de que houve realmente mutação, mas menos ligada à faceta musicológica do autor, que emerge durante a década de 1980, do que à sua postura artística e ideológica, que remete para o final da década de 1970.

Rui M. Pinto prosseguirá com uma das problemáticas da sua tese de doutoramento, com um estudo específico sobre a valsa enquanto elemento da divulgação da obra dos grandes compositores e do incremento do gosto pela “música clássica” do público de Lisboa, entre 1879 e 1888.

Quanto às comunicações conjuntas, Bráulio Vidile, investigador doutorando do CESEM, apresentará uma revisão sistemática de bibliografia sobre o uso de metáforas verbais no ensino-aprendizado de instrumento musical. Conduzida em colaboração com as Profas. Dras. Helena Rodrigues e Ana Isabel Pereira, a revisão pretende delinear o estado da arte do tema e oferecer sugestões para pesquisas futuras. Serão discutidas ainda as possíveis funções da metáfora no ensino instrumental, as limitações dessa estratégia pedagógica e possíveis medidas para compensar essas limitações.

Num painel intitulado Quando a Literatura Pensa a Música, João Pedro Cachopo, Vinícius de Aguiar e Filipa Cruz apresentarão três estudos que analisam diferentes formas de escrita sobre música na literatura do século XX. Num percurso dos romances A Montanha Mágica (1924) de Thomas Mann e O Jogo das Contas de Vidro (1945) de Hermann Hesse ao conto “Um Rei à Escuta” (1986) de Italo Calvino, cada comunicação procurará discernir as vantagens epistemológicas de um confronto da musicologia, entendida na sua diversidade disciplinar, com outras escritas e outras escutas, surpreendendo na literatura, entre a realidade e a ficção, uma abertura a outra experiência e a outro conhecimento musicais.

Por fim, quatro investigadores do projecto “Ecos do passado: Revelando uma paisagem sonora perdida por meio de análise digital” (2022.01957.PTDC) irão apresentar o painel O cantochão em Braga ao longo dos séculos (XI-XVII): o intercâmbio entre metodologias de investigação tradicionais e digitais em estudos de caso, que conta com quatro comunicações: as primeiras três apresentam estudos de caso de géneros litúrgicos, nomeadamente antífonas de comunhão, antífonas in Evangelio e Aleluia; a última comunicação foca-se na apresentação de uma nova ferramenta de análise digital automática, a “ECHOES MEI Analyser” que está a ser desenvolvida no projecto.

Inês Nunes Trindade. Durante o Concílio de Trento (1545 e 1563) originou-se um processo de reorganização litúrgica em Roma, que tomou em consideração também as questões musicais, nomeadamente a importância da transmissão da palavra durante a Eucaristia. Neste contexto, a Braga foi permitida manter o seu rito local devido à antiguidade da sua liturgia. Pretende-se, com esta comunicação, revelar as melodias de comunhão que se faziam ouvir na Sé de Braga no século XVII, presentes no Gradual de coro completo, composto por quatro volumes (Ms 35, Ms 36, Ms 37 e Ms 38), escrito entre 1637 e 1643, pertencente à Sé de Braga.

Carla Crespo. Nesta comunicação irá proceder-se à análise de dois fragmentos de breviários notados que estão localizados no Arquivo Distrital (Pastas 36) e no Arquivo Municipal (Nº 10 Códices) de Braga.  Datados do séc. XIII, os fragmentos têm em comum duas antífonas: a Amen dico vobis e a antífona Si offers munus tuum, frequentemente associadas ao 7º Domingo depois do Pentecostes. Tendo a diocese de Braga uma tradição litúrgica específica, desde finais do séc. XI até meados do séc. XVII, este estudo de caso tem como base a análise comparativa com o objectivo de tentar verificar se os fragmentos poderão ser considerados testemunhos desta tradição.

Francesco Orio. Esta investigação sobre o Aleluia em Braga visa explorar a transmissão musical deste género da Missa no cantochão do século XII ao século XVII, contribuindo para a identificação da proveniência de fontes fragmentárias. Na comunicação serão apresentados os resultados do levantamento sobre a presença litúrgica e musical do Aleluia nos manuscritos e fragmentos sobreviventes de Braga e uma comparação com outras fontes portuguesas selecionadas.

Elsa De Luca. “ECHOES MEI Analyser” é uma ferramenta construída de raiz, que não reutiliza recursos preexistentes, e que permite fazer comparações cruzadas entre versões do mesmo canto encontradas em fontes com diferentes datações e estilos de notação musical. Embora o repertório de cânticos seja limitado a uma centena de exemplos, que nesta fase podem ser automaticamente analisados, o tipo de pesquisa realizada pode já ser considerada altamente sofisticada, envolvendo não só notas e contorno melódico, mas também a presença de melismas e até formas neumáticas específicas, como liquescências, entre outras.

Além destes investigadores, também Luís M. Santos representará o CESEM no EnIM 2024.